O funk brasileiro tem se tornado o ritmo cada vez mais escolhido por quem curte festas noturnas. Com origem nas periferias das grandes cidades do Brasil, o estilo tem incorporado elementos da eletrônica e ganhado holofotes em festivais pelo mundo afora.
Nascido em um cenário norte americano, o funk foi absorvido pela cultura brasileira, ganhando diversas roupagens e hoje se apresentando distante das suas primeiras sonoridades.
O Brasil está prestes a ser conhecido como o país do funk, enfraquecendo a imagem internacional de samba e bossa nova. Acompanhe a seguir a trajetória do gênero neste país tropical.
Origem do funk
O funk nos Estados Unidos, nasce como uma inovação das sonoridades do fim da década de 50, conhecida como “anos dourados”, marcado pelo término da Segunda Guerra Mundial e por avanços tecnológicos, como a propagação da televisão.
Com o encerramento da grande guerra, a juventude norte americana finalmente se concentra em investir em itens de consumo próprio, além de frequentarem bailes e danceterias, produzindo ritmos únicos com base nos gêneros que já existiam.
Dessa forma, o funk dá as caras pela primeira vez como uma nova vertente da música negra já consumida na época. Tendo como principal representante, o cantor James Brown, também conhecido como o “pai do funk”, o ritmo misturava elementos do soul, jazz e R&B, que eram os ritmos escutados pela população negra.
É assim que então a nova sonoridade ganha vida, marcada pelo tempo rítmico da bateria eletrônica e com foco nos graves do baixo. O estilo também conta com outros grandes nomes, como, por exemplo, George Clinton, a banda Earth, Wind & Fire e até mesmo Prince e Stevie Wonder.
Desembarque do funk no Brasil
Em seguida, já no início dos anos 70, o funk começa a fazer sucesso nos bailes da zona sul carioca, contando com versões brasileiras acompanhadas dos ritmos originais. Os bailes eram regados a passinhos que ficaram conhecidos, e assim o gênero foi se enraizando e ganhando sua própria personalidade.
Já na metade da década de 80, conforme o estilo foi ganhando espaço nas festas noturnas e deixando alguns DJ’s conhecidos. O DJ Marlboro foi o pioneiro a produzir a versão brasileira do funk. Lançando grandes sucessos como “Ela só pensa em beijar” com Mc Leozinho e “Diretoria” com Mc Primo, que viralizaram no país inteiro e são conhecidos até os dias de hoje.
Ao mesmo tempo, outros artistas e grupos também estavam contribuindo para a ascensão do gênero, como o grupo Furacão 2000, que lançou diversos artistas e popularizou o termo “pancadão”, palavra usada para se referir a essas músicas.
Duplas que ajudaram a alavancar o funk brasileiro, foi Claudinho e Bochecha que estouraram com os hits “Só Love” e “Quero Te Encontrar”. Teve também os Mcs Cidinho e Doca com “Rap da Felicidade” e a versão chamada de “proibidão” do “Rap das Armas” que se tornaram grandes clássicos da vertente.
Ao passo que o funk estava cada vez mais popular, foram surgindo novas sonoridades que inovavam na forma de produzir música. Exemplo disso, foi a criação do “tamborzão” no final da década de 90. Os DJ’s Luciano e Cabide passaram a incorporar batidas de atabaque em suas produções, revolucionando o cenário do funk na época.
Anos 2000 e a Revolução do Funk
É inegável que depois dos anos 90 o funk brasileiro tomou rumos inimagináveis, dominando rádios, festas e mais para frente, as redes sociais. Mas esse crescimento aconteceu a partir da necessidade de produzir algo diferente, fator que marca o gênero desde sua criação.
A ascensão bombástica
Finalmente, nos anos 2000 foi que o funk estourou a bolha e dominou o cenário nacional. Saindo das periferias, o estilo fica popular nas rádios, passando a ser ouvido e dançado opor outros públicos, como em festas de classe média.
A produtora Furacão 2000 é um nome muito importante na popularização do ritmo. Responsáveis pelos sucessos de Gaiola das Popozudas encabeçado por Valesca e Os Hawaianos com seus passinhos que foram replicados em todos os lugares.
Seguido pelo Bonde do Tigrão que embalou diversos clássicos durante a primeira década do novo milênio, o funk passou a utilizar uma linguagem mais sexual e jovem, além de batidas cada vez mais sintéticas e estrondosas, que tornavam difícil a tarefa de ficar parado.
Dessa forma, no início dos anos de 2010, o funk brasileiro ganha mais uma vertente. Nascido no estado paulista, o funk ostentação invade a cena com letras marcadas por histórias de ascensão social e conquistas materiais como carros de luxo e roupas de marca. Artistas como Mc Guimê e Mc Daleste marcaram essa década, movimentando multidões em suas apresentações.
Ainda no mesmo período, surge um dos maiores nomes do funk BR. Sendo lançada pelo selo Furacão 2000, Anitta é um dos principais nomes relacionados ao subgênero funk pop, com uma estética mais melódica e clipes mais produzidos, sendo lido como uma versão brasileira do pop internacional.
Anitta também é uma figura importante ao pensar na exportação do funk brasileiro. É uma das pioneiras a misturar o gênero com outros ritmos. A carioca alcançou lugares e números inéditos para o Brasil, como diversos feats com artistas internacionais (Diplo, Maluma e Madonna, por exemplo) e o topo das paradas do Spotify Global com o hit “Envolver”, lançado em 2022.
As inovações dos últimos 10 anos do funk
A busca por alcançar mais um patamar de inovação musical foi o que fez o DJs Polyvox e Rennan da Penha lançarem o funk em 150 BPM (batidas por minuto). O resultado foi um som ainda mais acelerado e impactante, o que mudou a forma de fazer funk no final dos anos 2010. O cantor Kevin O Chris é até hoje um nome importante no processo de popularização das batidas em 150 BPM, que tomou conta das rádios e das festas da época.
Do mesmo modo, houve uma ascensão da vertente conhecida como “mandelão”, que, ao contrário do 150 BPM, surgiu nas periferias paulistas, e foi ganhando espaço nos bailes funks, chamados de “Fluxo”, fazendo referência ao movimento de reunir muitas pessoas em um mesmo local com a mesma intenção: curtir o som.

Esse subgênero “mandelão” é marcado por uma sonoridade sintética e grave, que faz grande uso de samples e de agudos que invadem a mente. É aqui também que ocorre uma maior popularização dos passinhos e de uma estética única no cenário do funk paulista, como máscaras de palhaços, os guarda-chuvas comumente chamados de umbrella, tênis esportivos e roupas de marcas que causam identificação entre os fãs do gênero.
Seguindo esse caminho, há um movimento de disseminação e divulgação de festas onde as principais atrações são os DJ’s especializados nesse estilo musical. Nomes como DJ Caio Prince, MU540, Bonekinha Iraquina e DJ Bassan são um dos mais procurados como headliners de festas como a Batekoo e a Submundo 808, por exemplo, que são eventos famosos na noite paulista.
A exportação dos DJs
Essa vertente do funk brasileiro causa bastante identificação com a música eletrônica justamente por beber das fontes do techno, bass, soundsystem e outros gêneros, o que explica o fenômeno de exportação desse som para outros países conhecidos por consumir esses ritmos de batidas sintéticas, com poucos ou quase nenhum vocal.
Apesar do subgênero ser associado como parte do cenário underground no Brasil, tem sido cada vez mais comum os artistas acrescentarem algumas cidades europeias em suas turnês.
Segundo o jornal The Economist, o mundo ainda tem uma imagem de que o Brasil é o país do samba e da bossa nova, e o Oscar por “Ainda Estou Aqui” reforça essa ideia para o exterior. Porém, fazem anos que o Brasil parou de exportar esses gêneros. A principal figura musical atual mais conhecida no exterior, é a Anitta, que iniciou sua relação com a música através do funk, e mesmo sendo conhecida por variar entre diversos gêneros, ainda se conecta fortemente com suas raízes.
Apesar da artista de São Gonçalo ser a preferida para estampar a cara do Brasil pelo mundo, a grande presença dos DJs brasileiros em eventos e festivais de música fora do país, reforça o sintoma de que o funk é o próximo gênero a representar internacionalmente a cultura do país. Inclusive as festas brasileiras, como os bailes cariocas e os eventos paulistas, são pontos turísticos essenciais para os gringos que visitam o Brasil marcarem presença.
É notável que a cena do funk brasileiro está em processo de crescimento e distribuição global, então fique atento aos nossos canais para receber mais notícias sobre esse tema, além de receber atualizações sobre os próximos eventos musicais da capital paulista.